Laranja Mecânica


Com o brilhantismo nas entranhas, depois do cultuado 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Stanley Kubrick leva o público à uma Inglaterra futurista, causando controvérsia [e furor] no mundo do cinema. O ano é 1971, tempos em que Charles Manson é condenado a morte e seus seguidores à câmara de gás, cerca de 500 mil pessoas marcham contra a Guerra do Vietnam em Washington, a sociedade se bate e rebate sobre formas de reeducação social e a violência gereralizada, é lançado Laranja Mecânica [do original a Clockwork Orange] dando uma, como chamamos, chicotada psicológica, nos mesmos moldes de Lolita
(1962), Dr. Fantástico (1964) e Nascidos Para Matar (1987), revelando uma sociedade que vive sobre uma hipocrisia manchada pelo desumano e pelo sulrrealismo comercial. O filme se passa em um futuro não muito distante, numa brilhante atuação de Malcolm McDowel, como Alex DeLarge, tão brilhante essa a ponto do próprio Kubrick, que dificilmente fala de seus filmes, dizer que se não contasse com McDowel para o papel principal, não teria rodado nenhuma cena. Na história, Alex é líder de uma gangue de delinqüentes que, após roubar, estuprar e matar, é preso pela policia e é usado como cobaia, num experimento que faria com que o indivíduo interrompese seus impulsos maldoso e violentos. Kubrick, com inexpugnável maestria e perfeição, cria um domínio artístico e paradoxal sobre a essência da sociedade, pondo-se a prova revelando uma sociedade tão violenta quanto Alex. Depois de ser preso, ele é o primeiro condenado a ser submetido a uma nova forma de punição do governo, no qual se diz tornar o criminoso alguém bom para a sociedade, a forma como isso é feita, é claro! É mais violenta que a corpórea, tentando narcotizá-lo, controlando sua mente deixando todas as suas experiências pessoais sem importância, não se pode mudar a concepção de um homem, nem sua essência, não adianta hipnotizá-lo. E isso, Kubrick nos prova com maestria. Uma das cenas mais primorosas que considero sublime é a cena do estupro, onde Alex cria um plano maquiavélico, arrombando uma casa e estuprando a mulher de um escritor ao mesmo que cantando Singin´in the Rain, do famoso “Cantando na chuva”, mostrando-se hostil, agressivo e maldoso o bastante para não se revelar possuir sentimentos bons. Outra boa cena [e bizzara] quando Alex e seu bando invadem uma casa onde mora uma dançarina, matando-a com um pênis gigante. Laranja Mecânica é um clássico, com todas as letras e surtos, preste a atenção na linguagem usada pelo bando, criada ainda no livro de Anthony Burgess, que mistura palavras em inglês, russo e gírias. Um filme bom desde roteiro até a execução.
« o que é evidente, quando se revê o conjunto da obra, é que não apenas ela nunca aparece como ilustração de uma tese, mas, pelo contrário, na sua complexidade e na sua diversidade, como uma criação visionária e pessimista de uma rara intensidade poética. Nada do que é inquietante na natureza humana lhe é estranho". Claude Michel Cluny (Dictionnaire du Cinéma)  Numa análise breve, Laranja Mecânica é a história de um jovem, Alex, numa Londres, no futuro próximo, que vive inescrupulosamente suas alucinações de violência na ação real.  Um atormentado ser que necessita dar vazão ao prazer em atitudes violentas em estupros, assassinatos e torturas.Uma personagem sarcástica, dotada de grande inteligência e perspicácia. Numa encarnação do que há de mais sórdido no ser humano. Livre da moral, nada reprimido em suas pulsões. Líder de uma gang feroz, travestidos de clowns perversos que saem pelas ruas a divertirem-se com o sofrimento alheio. Esta é a primeira parte do filme e é o extremo da violência. No entanto com uma composição estética, sonora e fílmica impecáveis, no nível mais alto do virtuosismo de Kubrick.
Cenas coreografadas numa organização cênica do espaço, possibilitando movimentos e enquadramentos de câmera perfeitos. Numa estética, composta de elementos gráficos, do branco e preto às cores fortes, como se a época, na visão do diretor, estivesse embalada para presente numa vitrina encenada. Um futuro de energias teatrais. Personagens solitárias numa sociedade transformada em pura ilusão. Mesmo focado na importância dos elementos imagéticos, Kubrick  suporta com maestria as interferências textuais nos diálogos ( frases com uma grande variante de significados), voz off e na “natsat” língua criada por Burgess que no filme é facilmente entendida pelos elementos e atitudes das personagens. A segunda parte do filme começa com o desentendimento de Alex com a sua Gang que o denuncia resultando sua prisão. A cena da luta com a gang no teatro abandonado pontua claramente a fronteira do reverso da história. Alex preso, limitado, sem a
liberdade de ação sem o seu grito na 9º sinfonia de Bethoven. Em teoria apresentada a ele do “ Tratamento Ludovico” criado para uma reabilitação de um criminoso psicopata, Alex se submete aos testes para uma redução de pena.
As cenas de tortura e lavagem cerebral, mostram o desconforto à personagem que chega ao limiar da loucura na visão forçada da violência, na semelhança com a que praticava. Livre da prisão mas não livre da sua prisão interna, vagueia na Londres labiríntica e circular, onde esbarra com suas vítimas cheias de ódio. Com a mente fragilizada cai na armadilha de uma delas e se atira pela janela no desespero de uma libertação pela morte. Não morre, é hospitalizado e em outro círculo narrativo volta-se a representação do poder social e político, sendo ele adotado como um exemplo de recuperação.Kubrick usa as atitudes contraditórias de um sistema com um humor  negro inteligente numa sátira a sociedade humana. Um filme cheio de significados com entrelinhas, para o encontro do real sentido. Num estilo próprio do diretor, um fim não se explicita. Uma
felicidade ilusória e elementos imagéticos das pulsões humanas guardadas em cada mente, o grande segredo,na essência.
Ficha técnica A laranja mecânica (A clockwork orange) (Grã Bretanha, 1971)
Produção: Stanley Kubrick, Warner Bros. Oak Films, Polaris Productions
Co-Produção: Bernard Williams
Produtor executivo: Max L. Raab, Si Litvinoff
Produtor assistente: Andros Epaminondas e Jan Harlan
Realizador assistente: Derek Cracknell e Dusty Simonds
Argumento: Stanley Kubrick segundo o romance de Anthony Burgess, "A clockwork orange"
Director de fotografia: John Alcott (Warner Color)
Design: John Barry
Director de cenografia: Russel Hagg e Peter Shields
Pintura e Escultura: Herman Makkink, Corneilius Makkink, Liz Moore e Christiane Kubrick.
Música original: Walter Carlos
Música: Beethoven "9ª sinfonia", Edward Elgar "Pompa e circunstância marchas 1 e 4", Rossini "La gazza ladra" e "Guilherme Tell", Terry Tucker "Overture to the Sun", Purcell "Música para o funeral da rainha Mary", Jam Yorkston "Molly Malone", Arthur Fried e Nacio Herb Brown "Singing in the rain" por Gene Kelly, Rimsky-Korsakov "Sheherazade", Erika Heigen "I want to marry a lighthouse keeper".
Som: Brian Blamey
Montagem: Bill Butler
Guarda-roupa: Milena Canonero
Conselheiro técnico: Jon Marshall
Ditos: Roy Scammel
Distribuição: Warner Brothers
Duração: 137 minutos.
Intérpretes: Malcolm McDowell (Alex DeLarge), Patrick McGee (M. Alexander), Michael Bates (chefe dos guardas), Warren
Clarke (Dim), John Clive (o actor), Adrienne Corrii (Mme. Alexander), Carl Duering (Dr. Brodsky), Paul Farrell (o vagabundo), Clive Francis (Joe, o locatário), Michael Gover (o director da prisão), Miriam Karlin ("catwoman"), James Marcus (Georgie), Aubrey Morris (Mr. Deltoïd), Godfrey Quigley (o capelão da prisão), Sheila Raynor (mãe de Alex), Madge Ryan (Dr. Branon), John Savidant (amigo de M. Alexander), Anthony Sharp (o ministro), Philip Stone (pai de Alex), Pauline Taylor (psiquiatra), Margaret Tyzack (amiga de M. Alexander), Steven Berkoff (o comissário), Lindsay Campbell (um inspector), Michael Tarn (Pete), David Prowse (Julian), Jan Adair, Vivian Chandler e Prudence Drage (criadas), John J. Carney (um inspector), Richard Connaught (Billy Boy), Carol Drinkwater (Mme. Feeley, enfermeira), Cheryl Grunwald (rapariga violada), Gillian Hills (Sonietta), Barbara Scott (Marty), Virginia Wetherell (a actriz), Katya Wyeth (uma rapariga), Barry Cookson, Gaye Brown, Peter Burton, Lee Fox, Craig Hunter, Shirley Jaffe e Neil Wilson.
 


fonte: O Mito,Overmundo...

0 comentários:

Postar um comentário

 
ACUNHA © 2010 | Designed by Trucks, in collaboration with MW3, templates para blogspot, and jogos para pc